terça-feira, 23 de junho de 2009



Uma árvore torta

Se eu encontrasse Manoel lhe contaria que vi uma árvore torta...
Suas raízes nascem da terra que se apresenta em modo de areia branca e miúda. Cresceu deitando-se na duna, como quem saúda a força da beleza em volta, pairando só e única na mansidão do entorno. Penso que a copa inclinada talvez abrigue um mundo de passarinhos que lhe fazem companhia. Vida que gera vida. Tortuosa forma que me intriga e me fala daquilo que linha reta alguma me ensina.



photo by Danielle Dantas (Jeri, Maio/09)

Momento


Ando pensando sobre forma e duvidando do conteúdo. A tristeza tem se aproximado com mais frequência e confesso que não a impeço, para dizer a verdade. Ela é mansa mas firme em seu propósito de fazer casulo em mim. Muitas perguntas chegam de forma errática e, se antes eu as combatia e respondia aguerridamente, agora as recebo e acomodo dentro, sorrateiramente. Conto o tempo, penso na relatividade dos prazos, encurto o tempo e o utilizo "errado". Faço planos imediatos, mas perco o instante. Sinto-me estanque, tenho muito e tanto em mente, mas não vibra o coração. O corpo sente, me causa estranhamento e confusão, a ele exijo explicação. Levanto-me, olho o dia em frente, busco renovação.


photo by Danielle Dantas (pôr do sol em Jeri, Maio/09)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Cenas várias

Vejo as cenas passando
Reconto minha história
Remeto-me a adjetivos que soam corretos
Duvido muito porém...

Não sei onde isso vai dar
Algo há de brotar??
Só sei o que quero doar
algo que gere vida
vida que se enlace na cria

Anseio pelo que nem sei
Olho e não vejo muito
só enxergo a rósea mancha
aquela que entorpece os sentidos
que cumpre seu papel e enaltece a emoção

Uno-me às imagens estanques da tela
E penso: "a solidão não me causa inveja"

terça-feira, 16 de junho de 2009

Ensinamentos

Muitas vezes pensei ser errado, inadequado
É mais uma história de amor,
e não é diferente de outras tantas, eu sei...
Mas desperta em quem a vive uma emoção única, indizível e sublime

É vida minha, à qual me entreguei
“Amores com defeito, amores perfeitos”, eu li dia desses
E pensei: a verdade é que o amor constrói por meio do inesperado
Ele se fortalece daquilo que marca a pele
E chega à alma prá ali ficar
A via é a do sentido, todos os sentidos
Olhar, tocar, viver o sublime roteiro de cada dia
E tornar tudo um filme em que não falte emoção
e que se traduza sempre em vívida poesia

E assim, amando, aprendo que o caminho da palavra é múltiplo
O bom é andar neles todos, mantendo o prumo
Mas sem saber exatamente a direção

Adiante, sempre!

Mais um dia de luta
Sinto cada pedaço de mim
Reúno minhas partes e as coloco a rodar por aí

O horizonte une azul-mar, verde-mato,
emoldurando beleza sem igual
O percurso já me é íntimo
mas se renova sempre
é só erguer o olhar,
por via de saber o privilégio de aqui habitar

Sinto-me pequena diante do longo percurso
e imensa quando sinto cada quilômetro vencido
Vejo gente, me escuto, me sinto
Aproveito-me deste encontro comigo

O sol aquece (talvez mais do que a pele gostaria!)
Cruzo olhares e absorvo as sensações todas
A multiplicidade do caminho me habita
A água que carrego na cintura renova e energiza
mas a sede é permanente
No entanto eu não me rendo
mas sim celebro os marcos na pista

Ouço o convite das ondas para nelas me banhar
Presente generoso que me aguarda
Eis a vida diante das minhas passadas
não me canso de a ela brindar

domingo, 14 de junho de 2009

O que há por dentro

Quer saber o que se passa em mim?
Então entre por inteiro,
mergulhe de tal jeito
que, lá de dentro, possa me chamar seu hospedeiro.

E já que assim faz,
caso me encontre por lá,
traga à tona o que achar.
Revele as entranhas, os particulares
e ponha algo de luz neste caos
mas não o organize, no entanto...

A miscelânia me compõe
e pela via do encontro é que se expõe.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Namorando a vida

O que eu quero mesmo é a alegria de namorar:
"carinhar" a vida
agarrar o minuto de emoção
saborear o instante do encontro
verter a riqueza dos olhares
celebrar a multidão de cores e paisagens da cidade.

Hoje vi beleza do humano em comunhão com o verde
subindo em árvore
deitando na pedra
feminino emoldurado à luz do sol

Caminhada só, no silêncio claro do dia
Mar em movimento, pé no chão
Vida que segue e que é minha...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Merece Poema

Sim, merece um poema porque de forma tão bela aconteceu...
E o que é a Poesia senão a mais bela união corpo-alma?
A tradução explícita e corajosa da emoção do encontro!
Daquilo que vem, sem explicação,
e nos invade sem pedir permissão.

Pois assim foi: fomos postos lado a lado,
naturalmente, e sem planos de antemão!
Encontros de olhares, distintas realidades
que se cruzaram em distantes ares.
Mil gentilezas, carinhos ao longo do caminho,
sol, natureza vibrante, arte e até estrelas vimos!
E, por dentro, receios, expectativas, explicações tentativas
(ai, que vontade louca de aterrisar como um meteoro sobre ti, mas me contenho).

Espero o momento e ele vem.
Olhos nos olhos, tuas mãos fortes e suaves nas minhas
Sem pressa e algo-sem-jeito procuro por ti e te encontro.
A entrega total vem com força
nos arrebata e assim se estabelece: forte e linda.
Descobrir-te tem gosto de vida!

Carinhos, beijos, toques,
palavras-gemidas ao pé do ouvido,
prazer feito nosso a cada minuto que corre.
Madrugada transgressora das regras.
Atleticamente nossos corpos se unem por horas
quando deveriam descansar para o desafio que nos espera.

Porém pervertemos a ordem...
E sabiamente a energia da vida impera!
Hormônios em harmoniosa guerra.
Não quero senão isto:
a linguagem que em nosso corpos a Poesia expressa!

* para meu amor, Marcelo.

Domínio Teu

Inspiração: vem e em mim fica!
Quero-te vivendo assim, eterna e plena
Encontra teu repouso e aqui fica
E por favor deixa-me tensa,
Domina-me de tua maneira intensa
Atira-me ao movimento da criação
Faze-me tua presa
Tua morada, teu habitat natural
Mescla tudo em mim
E me joga ao desconhecido
Faze-me madura
Faze-me tua
Faze-me adulta
Ah, dona de mim, faze-me para sempre amar assim...

Amor livre

Amo e assumo!
Meu ser é livre e vai ao teu encontro sem medo.

Amo e comungo.
Entrego-me e realizo-me no dançar de nossos corpos unidos pela paixão.

Amo e conjugo.
O verbo é presente e se traduz na linguagem dos olhares, gestos, suspiros e beijos.

Amo e contudo não deixarei de dizê-lo
porque não o ouço...
Eu o sinto entre nós e disso não duvido.

Amo e construo.
Amo e retribuo.
Amo e não julgo.

Just me and myself

Lanço-me nesta página branca buscando elementos para preenchê-la.
Busco compreensão e talvez conforto para o vazio
e o montante diverso que convivem
simultaneamente ou alternadamente em mim
(mudo esta perspectiva tão destoante de acordo com o momento da minha emoção).

Remeto-me ao efeito das escolhas e seus impactos.
Sofro silenciosamente e escondo de mim mesma
o estranhamento que me assola.

Forço uma naturalidade aparente?
Sou mesmo assim?
Esta suposta dona (egoísta/serena/covarde/brava) da minha vida?
E quanto às outras vidas todas que implico por meus atos, pensamentos e emoções?
Sou capaz de suportar a realidade da minha acidez e até mesmo infertilidade
que enxergo em tantos pequenos-grandes momentos ?

Instantes... A força dos segundos, que bem conheço...
A soma dos minutos, das horas, a inconstância.
Posso viver em mim? A que lugar vou?
A que sirvo neste mundo onde todos buscam sentidos sem sentir-se?
De que matéria sou feita? Eu me moldo?

Velhas perguntas, que me pedem renovação para que sejam respondidas.
Visito minh´alma e ela me acolhe e me conforta.
Levando-me a mim mesma ela me põe a caminhar.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Ser inteiro

Sentir-se inteiro é qualidade de quem se doa
de quem vê na delicadeza do olhar
a força absurda do encontro

Escolho a via do amor para estar em mim
e assim navego ao sabor das ondas
e do vento que me invade e agita

O amor me leva
com gentileza ele me escolhe
e eu, sem hesitar, aceito

E à palavra-amante que possui o todo,
que revela cada detalhe,
que expõe a carne,
que conecta a alma,
eu me rendo!

* escrito em 28 de maio de 2009

Algo de mim

Sinto-me viva e poderosa quando meus pés-tênis vão me levando
Pernas-feitas-toras que se torneiam a cada passada
Gosto de ver a transformação que no meu corpo se dá

A cada passada é como se um êxtase me dominasse

Dor e alegria convivem mutuamente
Ambigüidade que me acompanha e me constitui
Descubro-me, sofro, imponho-–me desafios, contento-me!
Mas não contenho, expando
Intensamente me deixo dominar

O sol me impulsiona e me traz dor

Queima, curte a pele
Mas ainda assim curto cada momento pelo prazer do caminho e
da chegada
Pelo momento em que a plenitude se estabelece com força: a
celebração da linha final...

Meus pés pervertem o ideal feminino da beleza
Materializam o sacrifício dos quilômetros vencidos
A verdade é que o ritual das pistas em mim se estabeleceu
Me engrandeceu
Me faz maior do que poderia imaginar
E me faz também pequena e frágil
Me faz fêmea forte e domadora

Domo meu ser, domino meu fôlego, minhas pernas

E sigo sempre em frente
Por retas e curvas que me transformam
Beleza conquistada a cada metro
Momentos que me fazem pertencente a um universo particular
Que me configuram e deixam marcas vivas, marcos na vida!

Encontro com mundos diversos, os mais diferentes tipos

Conheço histórias, as mais loucas e admiráveis
E escrevo a minha...

* escrito em 30/setembro/2007